Estadão e João Mellão: um discurso brincalhão



   Olá polvinho,

   Estava eu em meu lugar e veio o Estado de São Paulo a me atormentar. Como faz tempo que não falo desse dileto jornal {{a última vez que falei dele foi no Editorial Caipira}} resolvi falar hoje de uma matéria um tanto quanto imparcial.

   A matéria é de João Mellão Neto, sob o título de "Lula x FHC" {{não acredite em mim}}. Até aí nada de sobrenatural, comparar os últimos dois presidentes, mandatos, etc. 



   A  matéria começa chamando 'as novas gerações' de idiotas. Sim, senhoras e senhores, ou vocês tem alguma desculpa para a seguinte frase:

Quem foi melhor para o Brasil, FHC ou Lula? Creio que agora, com Dilma eleita e empossada, já se pode fazer uma avaliação isenta de paixões. Isso é importante porque as novas gerações só se recordam do governo Lula. O de FHC desenvolveu-se quando boa parte dos jovens atuais era criança. Eles não têm opinião formada sobre o que foi a gestão de Fernando Henrique Cardoso.
   É, bem, digamos que por esta lógica quase ninguém teria opinião formada sobre, por exemplo, o holocausto. Sobre a 1ª Guerra Mundial  então... Sobre o que foi o mandato de Júlio César em Roma não haveria sequer palpites...

   A tese aqui é bem simples, não se enganem: as gerações mais novas raramente dizem algo de bom sobre FHC logo elas não tem a mais vaga idéia do que foi o mandato do tucano. 

    Isso já seria por si só motivo para um post, mas vamos adiante que a coisa fica mais divertida...


FHC e Lula vivem trocando agulhadas. E - quem diria - já foram aliados, no passado. Foi nos anos 70, quando ambos, ombro a ombro, lutavam contra o regime militar.

Afastaram-se na década seguinte. Lula tratou de fundar o PT e o professor Cardoso, na condição de suplente de Franco Montoro, assumiu a senatoria quando este se elegeu governador
   Quem diria? Qualquer ameba que consiga ler um livro de história... Agora qual a explicação para o tratamento 'Lula tratou de fundar' e 'o professor Cardoso' ? Ah, dirá o mais ingênuo, Cardoso era professor, Lula não. Ok, aceitaria essa se a frase tivesse sido: 'O sindicalista Lula... e o professor Cardoso' ou 'o metalúrgico Lula e o professor Cardoso'. Afinal, a idéia é comparar os dois mandatos de forma isenta de paixões, certo?

   Mas aí fico me perguntando qual a legitimidade do autor da matéria. Como sabem, sou do tipo mala e chato e vou fuçar toda e qualquer picuinha dos 'jornalistas' {{principalmente os 'de verdade'}}. E não é que o autor me respondeu, na própria matéria?

   Repare a senhora e o senhor; o rapaz e a rapariga {{epa!}}; o jovem e a jovem no exercício de retórica para afirmar a legitimidade do discurso {{os gregos chamavam isso de páthos}}:

Venho seguindo o noticiário político e econômico desde que me tornei adulto. Pelas minhas contas, já pude acompanhar a trajetória de oito presidentes, dez governadores do Estado e 12 prefeitos da capital.
   Ou seja, ele está apto a falar dos dois mandatos porque já viu de perto outros tantos presidentes, tem experiência. E se você verificar a história do sujeito vai ver que ele tem mesmo experiência:
  • Ministro do Trabalho e da Administração pelo então presidente Fernando Collor, numa época que já compreendia o início do processo de impeachment do mesmo.
  • Em 1993 é escolhido pelo prefeito de São Paulo,Paulo Maluf, para ocupar a Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano

   A vida política do cara é uma tragédia!! Ele participou de duas das unanimidades nacionais de podridão, Collor e Maluff, nos dois! Realmente o cara sabe do que está falando. O passado dele fala sozinho. Não vou nem dizer que ele participou do governo Alckmin.

   Não vou dizer que ele foi candidato a deputado estadual em 2010 e que {{vejam que surpresa}} perdeu.

   Não, não vou afirmar nada disso para retirar do autor qualquer credibilidade. Não vou nem perguntar como é que um filiado do DEM consegue analisar 'isento de paixões' um governo aliado comparando-o a um governo de partido oposto, porque seria exigir muito.

   Vou apenas perguntar quais argumentos apresenta o risório artigo para concluir que:

Os governos de Lula e FHC foram, no meu entender, complementares.
   Segundo ele o bolsa-família se tornou realidade no governo FHC embora tenha ganhado notoriedade no governo Lula. Ele argumenta que a crise de 2009 foi bem superada porque o governo FHC preparou o terreno.

   Ao invés disso vou fazer apenas uma pergunta, espero que o o nobre derrotado não fique ofendido:

Se os governos de Lula e FHC foram, no SEU ENTENDER, complementares, PORQUE RAIOS O SENHOR FEZ OPOSIÇÃO?!




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