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O Projeto de lei 6853/10 que será analisado pela Câmara dos deputados, quer exigir que campanhas publicitárias que contenham fotos com pessoas modificadas com o intuito de alterar a aparência física contenham um aviso...
"Atenção: imagem retocada para alterar a aparência física da pessoa retratada."
Antes de dizer qualquer coisa quero contar um segredo. Toda foto, atualmente é tratada digitalmente.
Agora gostaria de fazer uma pergunta:
Mas nem sempre é assim, há casos em que a aparência física é alterada porque a luz da foto foi alterada, mudando, por exemplo, a cor da pele da pessoa fotografada, sem, no entanto, ter a intenção de mostrar um padrão estético...
Foto tirada (ainda sem tratamento) para uma campanha de prevenção a AIDS |
Como podem ver, a modelo parece ter duas cores de pele diferente. Foi uma questão de luz que decidiu-se por resolver posteriormente, pois não sabíamos como ficaria a definição do cartaz e outros detalhes da campanha.
Claro que a foto final teria uma alteração física na modelo. Mas o objetivo nunca foi adequar a modelo a qualquer tipo de padrão.
Não espero, contudo, que uma lei contenha, em si, todos os meandros e variações possíveis de um determinado objeto. Para isso existem os juízes, para julgar se a lei está ou não sendo seguida.
O que preocupa é que, de novo, a educação acaba desvirtuada.
Para que ensinar uma criança que há valores mais importantes que a beleza? Vamos simplesmente mostrar que existem padrões inatingíveis.
Agora, supondo que existam modelos que não precisem de alterações digitais, o que faremos? Porque aí o argumento, é impossível ter esse padrão de beleza cairia por terra.
Não acho impossível atingir o tal padrão. Acho possível.
Mas acho absurdo alguém querer atingir tal padrão
E isso não vai mudar porque alguém simplesmente colocou um aviso mínimo na capa, dizendo o que todos já sabemos. Como ninguém para de fumar porque existem fotos horríveis atrás dos cigarros ou ainda porque existem mais de 1923878348930 substâncias tóxicas nele.
A questão, como sempre, é a educação.
Nos exemplo dos cigarros, o Governo usa a fotografia para expressar seu ''posicionamento''. A fotografia como arte, a arte como meio de expressão, e uma tentativa de expressar a ''realidade'' segundo o Governo, através de estudos médicos e afins. Pera ai, tem algo errado. A arte como meio de expressar a ''realidade'' é uma falácia. A arte não é ''real'', não busca uma ''realidade'' (embora muitos ainda digam que sim), então me pergunto: para que a porcaria dos avisos de alteração nas imagens? Não vira uma redundância?
Concordo que educar seria bem mais e eficaz.
Será que em fotos de campanhas políticas, vão utilizar algum tipo de aviso de alteração também?
''Conteúdo da imagem BRUTALMENTE alterado'' (não, não me refiro ao Photoshop e seus primos).
Para quem se interessar sobre esse lance da arte e ''realidade'', aqui vai uma dica: ''A filosofia da caixa preta - Ensaios para uma futura filosofia da fotografia'' de Vilém Flusser. O conteúdo pode ser usado para questionar a arte em geral.