Kit antihomofobia: AIDS X Homofobia







Inicio este pequeno texto pontuando duas coisas:

1º     As mortes por AIDS no país não diminuíram por igual em todos os segmentos da população: alguns morrem mais que outros e isto está intimamente ligado ao acesso e possibilidade de atendimento.

Vivemos num país homofóbico (as estatísticas mostram que somos o país com maior número de assassinatos por homofobia  do mundo) e preconceituoso onde  Estado e Religião estão longe de ser Instituições independentes. Aqui para jovens gays e travestis o atendimento depende do ACOLHIMENTO, o que vale dizer, da reação da pessoa concreta que está na porta de entrada do Sistema Único de Saúde.

2º      A AIDS cresce vertiginosamente entre a população jovem homossexual. Os dados demonstram isto e já há algum tempo. Isto acontece entre outros fatores não menos importantes, pelo fato de que a prevenção das DST e AIDS passa também pelo ACESSO a  todas as formas de informação e CONDIÇÕES de realizá-la.

Grande parte da vulnerabilidade do jovem gay reside no fato de que ele não consegue SER entre os seus pares, não vê possibilidade de aceitação ao revelar sua orientação sexual, vive no anonimato da sua sexualidade, não tem escuta  e, na idade onde  o pertencimento é crucial, não se vê pertencendo a lugar nenhum (falo aqui de apenas alguns aspectos pois a questão é muito maior e mais complexa)

HIV Prevalence - 15-49 year olds - 2008 UNAIDS Report

Numa sociedade predominantemente (ou melhor, socialmente instituída de predominância) heterossexual (quem é que acordou um dia e  decidiu “optar “ pela heterossexualidade ao invés da homossexualidade e vice e versa?); a ESCOLA é um espaço  privilegiado para a implementação de programas e projetos de Prevenção porque entre outras razões  é a instituição cuja meta e objetivo são a “formação do educando para o exercício da cidadania na direção de uma sociedade mais justa ”.

Dessa forma o projeto “Escola sem homofobia” - cuja origem se deu em 2003 no escopo do projeto Saúde e Prevenção nas escolas – vem de encontro a necessidade urgente de se diminuir a vulnerabilidade do jovem  e ou adolescente gay (embora o projeto tenha objetivos mais amplos  que este) na medida em que além de aumentar o grau de informação à respeito da ORIENTAÇÃO SEXUAL , contribui para a diminuição dos pré – conceitos  a respeito da homossexualidade .

O direito do Governo  Federal  de rever, adequar, ajustar , um material antes de distribuí-lo é justo, normal e não causaria celeuma. O que causou perplexidade, revolta e decepção  foi a alegação dada para isto :  ao dizer que o “governo não fará propaganda de uma opção sexual”  a Presidenta reproduziu o argumento utilizado pelo setor mais  reacionário, homofóbico e preconceituoso do país  e utilizado até hoje para também barrar QUALQUER INICIATIVA DE DISCUSSÃO NAS ESCOLAS DE PROJETOS ABORDANDO  EDUCAÇÃO SEXUAL POIS, INCENTIVARIAM  (OS) AS ADOLESCENTES E JOVENS  A FAZER SEXO PRECOCEMENTE!

A utilização deste argumento fortalece este setor e isto sim, estimula o preconceito e a discriminação ao tempo em que fragiliza o campo democrático e seus atores  .

O recuo do Governo Federal, expresso nestas palavras, condena a morte centenas de jovens  do país, os mesmos a quem se quer dar  “A EDUCAÇÃO DE QUALIDADE “ .

Um governante não pode se dar ao luxo de ser mal assessorado em questões tão sensíveis: não estamos mais na campanha eleitoral onde frases infelizes são colocadas na conta da necessidade eleitoral, no contexto  da campanha. Agora é vida real, e na vida real, feridas deixam marcas, a história cobra o preço e vidas são perdidas – inexoravelmente!

Escrevo na certeza de que  o   apoio ao governo precisa passar quando em vez , pelo papel de “grilo falante ”
Viva a vida que ela é urgente !

Teresinha Pinto é biomédica, pedagoga, autora do livro: "Educação Preventiva: Teoria e Prática" e ex-consultora da UNESCO

  




Links do Ocioso...