Festival YouPix e a politização da massa






Participei no dia 26 de uma mesa no Festival YouPix, em São Paulo, sobre redes sociais transformadoras, focando no trabalho do Global Voices Online, nas revoluções árabes, nas ferramentas como Twitter e Facebook como ferramentas de mobilização e ainda sobrou um tempinho para assustar a platéia falando sobre o AI5Digital/Lei Azeredo com o HADOPI francês a título de ilustração.

A mesa, que contou ainda com a participação do Renê Silva do @VozdaComunidade e do consultor da UNICEF (o cara mora na Zâmbia, tem que respeitar!!) João Felipe Escarpelini, foi bem interessante, mas claramente destoava do resto do evento. Ponto positivo e também negativo.

Curiosamente o auditório estava cheio, seja pelo interesse de muitos em escutar um tema que raramente se preocupam, seja porque logo depois no mesmo auditório haveria uma apresentação do Rafinha Bastos (com o mesmo humor preconceituoso e desnecessário) e de um grupo de humor que não recordo o nome. Mas, o que importa é que estava cheio e acredito que ao menos meia dúzia possa ter parado pra pensar naquilo que foi dito.



Falei basicamente o que venho repetindo no meu blog e em conversas com ativistas: Precisamos atrair um público diferenciado, buscando mostrar que a política institucional não representa a totalidade da prática política.

É preciso ensinar que política não é apenas partido, não é apenas os absurdos que vemos na TV sobre o congresso, e sim que TUDO que nos cerca é política.

Casos como o AI5Digital interessam à toda comunidade blogueira, seja ela "progressista" ou voltada para o humor. Aliás, estes últimos talvez sejam os mais atingidos pela censura na rede e pelo fortalecimento pretendido pelo MinC das regras de Direitos Autorais, pois vivem de mashups, de pegar vídeos, músicas e imagens sem se preocupar com autoria alguma.

Se blogueiros políticos são censurados por suas opiniões, os blogueiros de humor e "probloggers" podem ser censurados apenas por abrir um blog, já que a maior parte de seu conteúdo está longe de ser original.

Apesar da aparente receptividade ao que eu falei, não tenho grandes expectativas. Me contento se meia dúzia pelo menos parar para pensar. Ao menos quando falei da regra dos três strikes da lei HADOPI ouvi um "oooohhhh" uníssono na platéia. A idéia de ficar sem internet assusta.

Em muitos casos, infelizmente, a reação só surge quando e perde algo que interessa diretamente. É parecido com a "campanha" Preço Justo do Felipe Neto, onde a preocupação com os altos impostos se dá apenas porque ele quer comprar um iPad e custa caro. Não interesse se os preços dos alimentos cresce sem parar, a inflação... É o "umbiguismo" padrão de uma juventude alienada.

Mas, em geral, o evento era absolutamente vazio de propósito, ou melhor, era voltado para o humor, para o endeusamento de pseudo-celebridades da web e uma louvação a algo tão abstrato quanto a "cultura nerd" - que de underground e subversiva passou a ser objeto de idolatria consumista.

Claro, a vida não se resume à "coisas sérias", é ótimo que as pessoas se divirtam, mas me incomoda tanto patrocínio, tanto dinheiro investido em algo que, no fim, não resulta em nada prático, em propostas, em conclusões. É o circo pelo circo.

Sim, pode ser divertido, mas acredito que devemos priorizar, e o momento agora é o de se mobilizar para que a rede permaneça livre, e pelo que vi, 99% das pessoas presentes (sim, uma estatística furada, mas não duvido que seja por aí) nunca havia ouvido falar no Azeredo - ex-Senador e agora Deputado Federal responsável pela Lei Azeredo, apelidada de AI5Digital, cujo objetivo é o de censurar a rede.

A internet informa, mas você precisa ir atrás da informação. A maioria não vai.
Isso demonstra a IMENSA necessidade da militância pela rede livre se aproximar desses grupos. E acho que a fórmula de colocar uma mesa aparentemente desconectada do resto do evento, com teor mais politizado e militante tenha sido uma excelente sacada - aliás, a organização do evento estava muito boa, não posso nem devo reclamar -, uma forma de enfiar à força uma idéia, uma semente, nas cabeças da maioria de adolescentes presentes.

Precisamos sair do nosso círculo de conforto. Sim, maravilha que somos organizados, que temos contatos e apoio de parlamentares e etc. Mas precisamos também de ampla mobilização popular, sem exclusões. E o público do YouPix, por exemplo, usada a linguagem correta, pode ser um importante aliado, com a vantagem de não precisarmos mastigar termos mais "nerds", mais ligados à internet e cibercultura, pois este público conhece bem.

O que precisamos é tentar adequar a linguagem política ou mesmo politizada, explicar que política não é só votar, não é só o Sarney (claro que o #ForaSarney foi citado e eu respondi logo ser uma piada mobilizada pela mídia), que é MUITO mais do que isso.

O nosso desafio não é exatamente explicar como funciona a rede, mas dizer que ela está em perigo e porque.

E apresentar soluções. Mas numa linguagem que consiga trazer a política à esse público, desacostumado a isso. Um público que, apesar dos blogs, apesar da rede, continua tendo na grande mídia sua maior fonte de "informações", quando muito! É preciso um trabalho de formação política, de politização desse público.

Este é o nosso desafio.


Raphael Tsavkko Garcia, jornalista e blogueiro. Escreve o Blog do Tsavkko - The Angry Brazilian.



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