Pesquisa: Como não interpretar...



O portal Terra trouxe uma reportagem do New York Times a respeito do comportamento das crianças e como ele está se modificando devido ao uso das redes sociais. O título? Ah, sim, o título da matéria "Internet pode estar deixando crianças antissociais"

            Para mim já assusta, de antemão, um título que atribui um comportamento antissocial a crianças por usarem redes sociais, sei lá, é uma questão de interpretação de texto, mas tudo bem, vamos fingindo que não lemos...
           O nobre leitor que já fez uma pesquisa em sua vida sabe que, em uma pesquisa, há parâmetros que devem ser seguidos. Nada complexo, são coisas como:  região, idade, classe social {{A,B,C,D etc.}}, entre tantos outros.

            Bem, o Terra simplesmente ignora o fato de que a pesquisa foi divulgada em um jornal de Nova Iorque, para um público nova iorquino {{olha só!}} e o traduziu como se o fato se aplicasse à realidade brasileira. Simples assim.

            Quase como a pesquisa do papa sobre homossexuais e pedófilos, ela simplesmente pegou um fato da realidade americana e aplicou no Brasil.

            Ignorou, por exemplo, a diferença de preço entre uma ligação entre celulares nos EUA e no Brasil. Ela pega o fato e simplesmente diz:

Dois terços dos usuários sondados pelo Projeto Vida Americana do centro disseram preferir usar o celular para enviar SMS a fazer uma chamada telefônica.

             Primeiro que o número não se aplica ao Brasil {{ou existem o mesmo número de americanos adolescentes com celulares e adolescentes brasileiros com celulares??}} , segundo que, partindo da absurda premissa de que se aplicaria ao Brasil, as motivações são diferentes {{ou foi o mesmo processo de licitação e falta de regras que tangiram a privatização da telefonia americana?}}

             Eu sei, eu sei é muito mais simples traduzir e pronto. Mas custava dizer, na manchete, que a pesquisa é americana? 

As conclusões são sempre confiáveis!


              Vamos fazer uma pesquisa sobre o sistema de distribuição de remédios para combate ao HIV no Brasil e traduzir nos EUA sem maiores comentários? Fingindo que a coisa se aplica a todos de maneira uniforme?

              Isso porque resolvi ignorar o fato da pesquisa considerar que o contato social através da internet não é um contato social. Fico imaginando se quando se popularizou o telefone e os adolescentes conversavam mais ao telefone que ao vivo, se fez a mesma pesquisa concluindo que os jovens estavam antissociais também...

Quem sofre somos nós, que lemos, e que, ao menor descuido, engolimos essas besteiras sem mais nem porque. 


Em tempo: A pesquisa está aqui. {{não acredite em mim}}


Links do Ocioso...

2 comentários

  1. Rapaz, isso é só uma pontinha do iceberg, você sabe.
    Sou profissional de pesquisa e fico estarrecida com tanta lambança que se faz com isso. Às vezes propositais, mas outras nem são, são pura falta de conhecimetno do que é uma pesquisa. E digo isso, inclusive entre pessoas qeu supostamene deveriam saber lidar com dados!

    Eu vivo dizendo: dados tornam-se informação mas não necessariamente conhecimento. Informação não é conhecimento!

    passo por aqui sempre que dá.
    beijos

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